Eu estava estudando neurociências quando recebi uma mensagem na tela do
meu notebook:
"Você recebeu um vale presente. O
que você precisa saber: Será um dia de folga, com tudo pago, o tempo passará
diferente pra quem não for com você e eles ficarão bem. Você não precisa
se preocupar com absolutamente nada, descanse. Aceita?"
Eu sorri sem acreditar. Aliás, duvidando. Será? Mas sorrindo e em tom de
brincadeira respondi como se eu pudesse falar pra quem escreveu aquilo:
"Aceito!" Fechei a janela que apareceu isso e fui dormir. Acordei com som de chuva, olhei pra cima e afastei a cortina da janela,
gotas de chuva descendo lentamente; chovia forte, mas deu pra ver, que havia
muito verde e uma claridade dizia que o sol já estava por ali. Fechei os olhos e fiquei ouvindo... Barulho de água forte escorrendo,
não parecia ser pelas calhas, mas por riachos, estava tão bom... A cama me
acolhia ali com um frio que vinha apenas do clima, sem ventilador, sem
ar-condicionado. Espreguicei-me e me encolhi em meio a lençóis e edredons tão
macios e alvos que poderia sugerir que estava nas nuvens. Percebi que eu estava
nua. Confortavelmente nua deitada por entre as cobertas.
Sentei na cama e me dei conta: eu estava em outro lugar. Da cama eu via
uma pequena sala, mas não havia TV, apenas um sofá de madeira com almofadas
volumosas estampadas com mandalas em tons pastéis, não tinha tapetes em lugar
algum, nem precisava, o piso era de madeira, ao lado do sofá uma mesa lateral
quadrada e com entalhes, um abajur rústico igual ao que estava do lado da cama
que eu estava; do lado da luminária, caneta e papel a espera de escritos um
vasinho de cerâmica branco com detalhes coloridos e uma plantinha nele. Na
frente de tudo isso, uma bancada de cimento queimado e tampo de madeira; era
como uma copa, alguns poucos armários, frigobar e louças brancas. Tinha uma
jarra com água e flores cor de rosa seco em cima da bancada e um bilhete abaixo
dela. No meu campo de visão também dava pra ver uma porta a direita e depois da
copa e salinha, cortinas brancas que pareciam esconder grandes portas. Eu
estava em uma espécie de chalé, com estrutura toda de madeira. Fitei o bilhete,
levantei e fui até ele.
"O café será servido na casa ao
lado. Não se preocupe com a hora."
Lembrei-me do: "Você não precisa se preocupar com
absolutamente nada, descanse." Então eu estava vivendo o tal presente!
Como eu cheguei ali? Não sei. Levantei enrolada em um lençol e fui a porta,
supunha que ali poderia ter alguma roupa, ser o banheiro, e era. Ao abrir a
porta vi que o banheiro era bem grande, o piso dele era diferente, uniforme em
tom de bege, as paredes com pedras grandes em seus vários tons de marrons.
Tinha várias plantas suspensas, a cuba da pia ficava em cima de uma bancada de
madeira maciça e atrás dela um espelho grande, foi quando eu me vi. O cabelo
solto, leve e macio, eu estava sem resquícios de maquiagem, mas não havia
marcas firmes de olheiras, a pele parecia mais bonita, aproximei e vi que
parecia ter passado por uma limpeza de pele, sobrancelha feita... Eu estava em
um SPA? Não me lembro de nada! Meu rosto dizia que tive uma boa
noite de sono e o resto do meu corpo também sinalizava isso.
Por trás de uma cortina de conchinhas encontrei o chuveiro, ao fundo do
espaço pra banho plantas e pedrisco no chão com uma parede mais atrás coberta
de planta; a chuva estava caindo diretamente nas plantas, observei que nessa
parte, não havia teto. Liguei o chuveiro além de a água descer, automaticamente
começou uma música instrumental de gênero "profundo, envolvente e
zen", eu não sei explicar. A água estava um tanto morna e ao lado da
cortina havia um roupão branco e extremamente robusto e confortável só de
olhar. Parecia feito com o mesmo tecido da manta da cama. Ao terminar o banho
vesti.
Fui pra o quarto e dessa vez eu vi perto da cama uma mesinha com uma
pequena mala de palhinha. Lá estavam alguns pertences meus! Uma calça azul
estampada de praia, uma regatinha de algodão branca, meus chinelos, entre
outras coisas; arrumei-me empolgada, abri as cortinas e vi portas grandes de
vidro para um jardim imenso que mais parecia uma floresta e uma ponte pequena
logo na frente da varanda me ajudariam a atravessar o riacho que passava por
baixo. Havia sim, águas correntes por ali, além da chuva! Eu não me molhei
muito porque a ponte era coberta em cima; segui indo aonde a ponte levava.
Lembrei: Estou sozinha! Radiantemente sozinha. Sentindo bem e
amada... Quem será que me deu esse presente?
Depois de umas poucas curvas (onde dava pra ver que havia outros chalés
por ali perto) encontrei a "casa ao lado". Pequenos degraus de
madeira me fizeram entrar nela. O que era pra ser a sala era um restaurante de
madeira e vidro que possuía um formato que lembrava uma casa; lindo! Ali sim,
tinha algumas pessoas, casais, famílias, crianças brincando em mesas menores,
neném lambuzado de comida, mas as mesas eram espaçadas e eu não conseguia ouvir
nada além da música e algumas risadas. As pessoas pareciam tranquilas e
satisfeitas, eu estava encantada e fiquei mais ainda quando vi a mesa com um
banquete!
A mesa estava bem colorida e saborosa só de olhar. Tinha frios, folhados,
cuscuz, frutas, sucos diversos, café, leite e um cardápio de comidas a mais a
serem feitas. Separei o que eu comeria em uma bandeja que havia disposta para
os clientes; levei a mesa e me sentei olhando aquela paisagem
deslumbrante. Quando eu terminei, uma moça veio falar comigo e me
entregou um panfleto em papel reciclável que dispunha de algumas práticas
disponíveis naquele lugar, juntamente com um mapa que me guiaria pra cada uma e
seus horários de funcionamento. Lá havia: aulas de yoga, pilates, vários tipos
de meditação, pintura, oficinas de artesanato, culinária, musicoterapia,
hidroterapia, diversos tipos de massagem; salão de beleza, feirinha... Era um “mini
mundo” bom, pensei. "Aqui é o céu"?
Passei a tarde inteira entre Yoga, meditação, banho livre na piscina,
massagem, aula de culinária em que aproveitei todos os meus sentidos
sensoriais, dei boas risadas. Até a manicure dispunha de óleos essenciais para
massagem nos pés e nas mãos, eu amei! Aprendi a fazer penteados afros também.
Quase que saio tendo adotado alguma filha (risos). Fiz amizades e jantei com um
pessoal "vibe" boa. Comemos pizza! Divinas pizzas de sabores
inusitados que eu não sei o nome além de nomeá-las de: delícias estupendas! E
tomamos vinho, brindamos, oramos em gratidão. Começamos brandos falando
baixinho e depois já estávamos em conversas mais altas e sorrindo bastante.
Dançamos também. Não sei explicar qual era o gênero. Era uma mistura dançante!
Saias rodopiavam, calças erguidas, pés descalços ou, sandálias baixinhas confortáveis.
Foi muito bom!
Voltei ao quarto em estado de êxtase, sozinha e feliz. Amada. Foi como
me senti o dia inteiro. Especial, cuidada. E foi lindo de ver que cada um
parecia se sentir assim também. Tinha amor exalado pra todo mundo. Vinha
daquelas plantas? "Oxigenamor"? Vinha dos céus nas gotas de chuva?
Vinha da terra e alimento que nos sustenta? Vinha do sol, da noite que nos
aquece e nos sombreia? Vinha de tudo. Vinha das criações do Criador. Era
presente dEle mas é claro! A perfeição da sua natureza detalhada em tudo,
detalhada e transmitida em nós. Essas pessoas não poderiam ser tão lindas em
suas inúmeras expressões e aptidões se não tivessem um tanto de Deus em cada
uma delas.
Ahh... Foi lindo. E agradeci e agradeço por cada momento em que fui
agraciada e amada. Eu não fiz nada pra merecer, mas Ele me apresentou um céu na
terra pra eu saborear um pouco do muito que ainda está por vir. E já foi
tanto!
Voltei para o meu quarto/ chalé. Tomei banho sorrindo e lembrando. Fui
para cama e adormeci prontamente. Acordei aqui. Aqui nesse mundo que tem um
monte disso que vivi, mas de forma fragmentada e tão grandemente rara essa
junção. Lembrei-me de uma música do Teatro Mágico que diz: "Tem hora que a
gente se pergunta como é que não se junta tudo numa coisa só?" Há um mundo
bom. Em algum tempo e lugar. Haverá um mundo apaixonadamente bom.