O tio do Léo deixou a porta aberta e então eu vi pela fresta a liberdade; o cheiro que vinha dos resquícios de cotidiano entre os paralelepípedos, o cheiro também das plantas, de gasolina, de perfumes de quem saiu hoje cedo de casa. Eu fui, atravessei a porta e estava enfim na calçada. Já na rua, ouvi passos rápidos e de repente pausou; era uma moça, diante de mim com olhos bem abertos admirados como se eu não fizesse parte do mundo dela, não abriu a boca talvez porque estivesse cheia (senti cheiro de pão e queijo). Eu a fitei e segui um caminho oposto, fingindo não me incomodar com sua presença. Ela olhou para cima e viu o Léo, falou pra ele de mim: "- Tem um coelho aqui!", ele culpou o tio pela porta aberta e sinalizou que desceria.
Depois disso, a moça começou a vir em minha direção e eu comecei a fugir dela. Qual o problema dessa garota? Não estava ela apressada? Nunca viu um cara peludo, branquinho com cinza na vida? Eu fiquei chateado com aquela humana intrometida! Eu ali curtindo a manhã numa fuga rápida e ela sendo o bloqueio da minha sapequice.
Confesso que gosto de humanos, eles tem comportamentos interessantes e engraçados. Apesar de serem uma das espécies mais barulhentas que conheço. Eles riem com sons, choram com outros sons, dormem, namoram e misturam comidas fazendo muitos barulhos e ainda ouvem músicas! Dentre esses humanos o meu preferido é o Léo. Ele conversa comigo, me dar comida, deixa eu circular em uma casa confortável, é brincalhão... Desde que eu vim daquele país vivo mais normal como bicho, vivo a tranquilidade da falta de horário, da música boa, do cheiro do fumo, da comida posta, das luzes aconchegantes, e de uns aromas que sinto quando o Léo molha uns palitos num vidrinho; ele me explicou que é terapêutico, então desde então descobri que estou em terapias. Ele me explica muitas coisas; gosto do Léo porque ele sabe que eu entendo, que sou um bom aprendiz de humano.
Se não fosse Alice que me trouxe naquela bolsa eu teria um ataque cardíaco de estresse naquele lugar que só tinha o nome de maravilhoso. Se ela não tivesse deixado a porta de casa aberta, eu não teria vindo até a casa do Léo guiado pelo cheiro das suas comidas mágicas (Léo tem um restaurante). Falando nele, ele chegou, diante do aviso daquela moça; ele comentou sobre minha ousadia e agradeceu a ela, mas me deixou bem a vontade para passear na rua. O Léo sabia que se tem amor, não precisamos de amarras, sempre queremos voltar. Casa, Lar... Isso me fez lembrar de outra coisa, preciso falar com o Léo que traga a amiga Fabiana com sua linda coelha, estou necessitando a casa lar dela (ou com ela?). Enfim... "- Léo! Vem cá, humaninho..."
Léo é "parsa" demais.
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