terça-feira, 22 de outubro de 2019

Lua no aquário

Nota: Baseado em uma pisciana com lua em aquário e asc em peixes; seu encontro com outro pisciano (cuja mapa não sei) e também, com uma libriana que tem lua em câncer, e asc em aquário.  

Ela nascerá numa cidade do litoral, pela sua cor, já veio bronzeada; seu cabelo é tão suave quanto uma boa brisa, cor de mel (até ela inventar mudar de cor). A menina deu o ar da graça, em seu nascimento, iluminada pelos primeiros raios de sol de uma manhã no primeiro trimestre do ano. Sua mãe, diante de várias filhas e não sei informar mais o quê, não sabia que nome lhe dar, então deu um nome extremamente parecido com o de uma das outras, chamou-a prontamente de Luana. Mas cada ser é tão único, que a letra que desassociava o seu nome com o da irmã, já não fazia mais diferença, porque ela era a própria diferença! Esta menina ganhou um apelido: Lua, que pra falar a verdade, condiz muito mais com  ela. 

Lua nascerá cheia de sensibilidades, imaginação e curiosidades. Começou a trabalhar cedo e desenvolveu prontamente afeto por crianças, mas não demorou muito e fora buscar uma vida "melhor" na capital. Da praia a um aquário, em seu período maior de formação do mundo. Por esse aquário, não sabia quase nada sobre mar e viveu como se o mar não existisse durante algum tempo.
 
Ela ainda vive dentro do aquário, que por sua vez não é quadrado, não tem regras bem estabelecidas, não tem movimentos bruscos de novidades a um tempo, mas tem pessoas. A maioria, homens. Vários tipos deles, mas com algo em comum em característica: o fato de serem mentirosos. Cada um, em uma área. Isso fez com que demorasse demais a saber o que realmente era verdade, ficava confusa entre o que era dito; entre uma expressão ou outra, e até de sentimentos.

Ao longo desse período no aquário, se apaixonou, chorou, se desiludiu, reclamou, magoou, sentiu-se acolhida, riu de muitas bobagens... Encontrou refugio não somente em Deus, mas em séries e filmes. Sim! Pois a arte nos faz viver para além dessa vida, em questão de minutos.

Ela é bastante curiosa e conhecendo um homem que entendia mais de mar do que ela poderia imaginar, perguntou, pergunta de tudo, muito! Mas continuava um tanto confusa. Entre não conhecer e saber demais sem ter vivido aquilo; ficava na dúvida entre acreditar no amor, ou na coisa libertina por si só; entre ter uma vida cristã e garantir uma boa vida na eternidade ou, aproveitar essa vida como se não houvesse amanhã (porque pela justificativa de quem ela convivia, aproveitar a vida não condizia com uma vida cristã); ficou entre se entregar, ou recuar. Entre ser irmã, filha, amiga, ou qualquer outra coisa. Ficou em dúvida, como ser.

Mas Lua em aquário falava alto, quando falava. Era inconstante, uma pessoa que se irritava fácil, de poucos sorrisos, diziam que ela era fria, controlada, estranha... Ela se sentia diferente, incompreendida, sensível demais. Ficou entre uma mistura de exposição entre se amostrar com a de se esconder. Passou a se mostrar mais, o que era por fora, para encantar, para poder dizer: "agora sou eu que digo não!". Virou sereia. Aprenderá no aquário o que importa pra muitos homens... E decidiu entrar na dança. Porém, pelo visto, ainda não era totalmente a dela.

Lua vivia indo ao mundo dela. Interno, sozinha, introspectiva em várias coisas, ou alguns nadas. Se teletransportava para o "mundo da lua." E no meio desse impasse de se formar, eis que chegou outra garota no aquário! "Mais uma... Que não deve durar." Suponho que pensou. Ela se intrigava com a garota e na verdade, quase não dava a mínima pra ela, a não ser a questão de estar circulando muito por um espaço que era só seu. Mas com um tempo, a garota, mesmo longe, conseguiu ir se aproximando dela e Lua também. Reciprocidade.

Havia algo de muito diferente naquela nova garota que chegou. A novata parecia ser de aquário, mas entendia também sobre mar, ela aproveitava a vida, como também vivia uma vida cristã; ela é uma pessoa amável, porém não doce de abusar; ela é eficiente no trabalho, mas chega atrasada; ela sabe de muita coisa e tem a humildade de dizer: "Estava desorientada. Agora fud**!" Etc... Esse jeito, meio cá, meio lá... Aproximou as duas. Porque a sinceridade, o bom humor e amor atraem.

A garota novata esperou o tempo de Lua para ela ir se revelando e não a julgou; viu ela em todas as suas fases e mesmo assim continuo na sua linha: Respeito - é o mínimo que todos devem ter um para com outro; tempo, pra cada coisa e cada um; processo - uma constância de alto conhecimento; amor - a Deus e ao próximo sempre; luz - para revelar verdades e se revelar! A garota acreditava em tudo isso, e passou isso pra ela.

Lua iluminou-se mais linda, porque a luz que faltava chegou. Não... Não foi a garota novata! Foi Deus por meio da garota. Foi o cuidado dele vindo de todos os lados, mesmo a Lua não sabendo o que fazer, nem as vezes enxergando claramente isso. A luz dEle resplandece chegando e atuando por meio de algumas pessoas. Candeias. Deus cooperou. Mais uma vez. 

Seu hobby afrontoso tornou-se a busca por uma profissão! Procurando autoconhecimento encontrou sua essência e encontra a cada dia mais! Lua não veio de um aquário para viver em outro tão somente nele. Lua também ilumina, também encanta, também faz revelarmos nossa sensibilidade, intuição, intimidade; nos estimula a querer ver por além das aparências e ela também, exagera na sensibilidade. Ela mesmo deveria se atentar,  que merece ser observada como um todo, com zelo e amor; até por ela mesma. Sem orgulho, mas por ser filha de quem é.

Hoje ela sabe sua origem e vai de encontro ao mar, porque é lá onde ela se encontra mais... Hoje ela tem mais coragem que antes, mais calmaria; sabe que pode encontrar e merece, não menos que, um digno amor que misture boas loucuras e singelos sorrisos (por que, não?); que a amizade é tão importante, que o contato com a família também é; que a gente deve ser gentil, por não saber o que as pessoas estão passando; que ela pode se mostrar em vários desenhos e tatuagens são viciantes; que livros também são meio de transporte e muito conhecimento; que as pessoas se renovam, que algumas a gente deseja a paz de longe; que deve perdoar pra poder seguir; que o mundo é bem mais do que aquele aquário pra onde ela veio inicialmente; que ela pode transbordar nessa jornada! E que na prática isso tudo é muito difícil e leva tempo.

Lua não só passou a se mostrar mais como uma tropicana perdida; mas também se fez sereia e continua a buscar explorar mais o mapa da sua vida. Para descobri-la a regra é: ser uma pessoa que goste de mergulhar, isto é, não ser uma pessoa rasa. Ela, tornou-se voz dentro do aquário, deu voz a seu lado aquariano de ser, a seu  lado pisciano de ser, deu voz a ela por inteira. Estar a se descobrir.

P.s: Bom mergulho moça! Contudo, não esqueça, como seu amigo do mar falou sobre a vida: "Só não pode ficar imerso no fundo por muito tempo, pode ser muito ruim de voltar. Vá, mas suba..." Mergulhe, moça, porque você é muito bonita em sua natureza de escamas e liberdades.

sábado, 28 de setembro de 2019

Naqueles dias do mês

Baixou o estrógeno, disse ela; e junto com ele baixou um clima, uma personalidade e ela não parece ser quem ela é. De fato, ela não é assim, ela está assim... Pergunto observando-a, o que se vai quando seu útero se despedaça? Ela começa a ficar triste, encolhida, irritada, agressiva. Um mix! Uma mulher ferida. Certamente... Mas isso acontece todo mês! Ela não se acostuma? 

O corpo dela não permite o hábito, chegou como "insight". Para além dela pensante, há o corpo dela tão complexo na sua constância de variações; hormônios sobem e descem, naturalmente. Fito-a com surpresa, ela na verdade tem que lidar com isso todo mês? 

Comprei sorvete e dei pra ela, porque li em algum lugar que é bom e pela expressão no rosto dela, deve ser mesmo. Enquanto ela toma o sorvete, come, eu fico pensando... O que tem naquilo de tão especial? Pesquisei. Estimula hormônios bons que nela agora faltam. Ou seja, não é bobagem de mimo é real! Ela precisa de reposições.

Uma flor despedaçada em vermelho vivo, causa dor. Dor lá no ventre, como também na sua cabeça no primeiro dia. Com o escorrer tinto de seu ventre, vai embora o poder de ser mãe, o desejo de ser mãe; ou vai o alívio de ainda não ser mãe, mas vai causando incômodo; aparece durante alguns dias a marca vermelha lembrando que ela multiplica nações. Vai a marca da preparação fraternal, vai a marca da sua busca incessante física de ser um com outro e gerar algo bom, gerar vida. Seu sangue mostra a imposição que lhe foi dada: ser mulher. E o que é ser mulher para além disso? Pensei. Mas isso são outras histórias. 

Observei-a depois em outros meses; as vezes a guarda dela baixa intensamente, mas vi que ela sabe na maioria das vezes lidar com essas variações de hormônios que causam uma montanha russa em seu humor e até altera a aparência de seu corpo. 

Vi que ela aprendeu a se amar mesmo sendo estranha para ela mesmo, percebeu que independente disso, ela merece amor; que pode curtir a sua escuridão até chegar novamente a luz, sem medo de ficar lá por muito tempo; que ela pode comer e nutrir até sua alma sem receio de engordar; que pode levar afeto numa compressa que aqueça sua pele até chegar no seu ventre machucado; que ela pode parecer uma menina de 12 anos que levanta da cama e vai para o sofá assistir desenhos e filmes bem "sessão da tarde" até ela enjoar; que pode chorar e rir por uma bobagem com uma sensibilidade de poucas palavras ou mesmo, vendo uma cena afetiva; que um banho demorado é bom; que ela pode dispensar compromissos por não estar tão bem, que ela pode aceitar também se assim quiser, mas sem cobrar tanto, afinal, seu corpo está energicamente consumindo mais para uma região e é nela, dela. Foco em si mesma. 

Concluí observando, que ela aprendeu que pode se aninhar em meio as cobertas procurando abrigo que dessa vez o corpo se preparou, mas não pode ser; que existe afetos em diversos cômodos da sua casa, que existe os novos escritos nessa sua fase lunar; que ela deveria pegar aquele livro que encostou no criado que nada fala; que ela pode vestir roupas mais confortáveis e leves, sem combinar estampas e mesmo assim se sentir bem; que ela pode assistir um filme todo e dormir, porque ela se permitiu dormir demais! Que ela pode lutar com ela mesma não aceitando ou se entregar a esses momentos, conhecer seus limites e avisar a quem está ao seu redor pra situar como se deve agir. 

Ela aprendeu que pode fazer mais um pouco disso tudo em outros dias! E se não fizer, não importa a correria, o corpo dela uma semana do mês avisa, que ela deve parar para esse encontro. Para cuidar de si, cuidar do seu corpo que também é lar. 

Admirei suas nuances, seus altos, seus baixos. Que beleza entre algo delicado e brutal ela tem nessa dança, sim, ela dança com isso, nisso... Levantei de onde estava e sem dizer nada ofereci o cuidado que ela as vezes esquece ou não consegue ter, mas precisa: um abraço. Assim juntei seus pedaços e inteira ou inteiros, ficamos ali; ela lambuzada de chocolate e eu fingindo não querer um pouco pra não irritar ela. 

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Uma dor na coluna e a moça amendoada

A pele dela cor de amêndoa atraiu um homem com problema nos ossos; coluna mais precisamente. Nosso instinto sabe melhor quem devemos escolher que nós mesmos. Será? Discutia ele com seus feromônios, enquanto ela passava por ele com um vestido um pouco solto, mas que marcava bem a silhueta bonita de uma grande garota que media um pouco mais que 1,50m de altura. Ousada será? Com essa altura de salto alto, teria ela medo de arriscar algo, mais do que torcer seu lindo tornozelo?

Ele se aproximou dela, a trabalho, pois era o que podia no momento. E viu que mais que remeter a uma fonte de cálcio e magnésio por sua cor, ela também ajudaria a levar os fardos que pesavam nas suas costas. Se ela é forte? Demais! E também pra roubar sua atenção para outra coisas e esquecer da sua coluna. Na verdade, aquela mulher parecia trazer os melhores pesos para seus braços. 

Filho, nossa, ela tem um filho! Passou a vê-la também como ela era como mãe. Aquela pequena tinha mais garras do que leões que ele enfrentará, certamente, o aborreceria algumas vezes, mas também, o protegeria e cuidaria do seu lar, da sua prole. Proativa ela... O que queria mais aquele homem senão ela? "Á vante!" 

Ela aceitou. Ele apaixonado por suas qualidades e atraído pelos desafios de seus defeitos. Ela querendo saber se o jeito que ele organizava as coisas organizaria também (juntamente com ela) sua vida. Não... Mentira! Ela só pensou nisso depois! A moça queria mesmo era saber como era os "manuseios" daquele homem. 

Começaram o romance. Pode-se chamar assim? Não sei muito bem. Mas começaram. Descobriram que há amor onde não se espera, há um encaixe na rotina louca quando se quer, há sonhos que se constroem juntos fazendo traços de cimento e carregando tijolos mesmo cansados; há desafios na personalidade, diferenças gritantes, e sim, essas diferenças gritaram, fizeram-os chorar, se irritar e até questionar o inquestionável. 

Continuaram, se reinventaram, mudaram, se tatuaram para levar em seus corpos marcas mais interessantes em letras e desenhos, mostrando aonde quer que possam ir, o que realmente importa. Se entenderam. Se alinharam mais. Se afastaram! Sim! Para novos desafios, mas estão mais unidos que nunca, porque há propósitos, como também, saudades quando longe, entrelaço quando estão perto.

A falta um do outro fez perceberem que se for pra enfrentar e amar nessa vida, querem fazer isso um com o outro e pelo outro. Casar. Por que? A falta da moça cor de amêndoa deixou o homem até mais magro e fraco também; a falta desse homem, bem, o que deixou? O que ela encontrou sem ele além de saudade? Confesso, eu ainda não sei muito bem. É que não li mais ela. Agora como já estou longe, vou ter que perguntar. 

[...]

"Olá, moça!... Como vai a vida por aí?" 

terça-feira, 9 de julho de 2019

A descoberta dos machos aliens

- Que cheiro é esse?
- Chocolate foi como ouvi eles chamando.
- Cho o que?
- Colate.
- Ah... Cheiro bom. Pra que serve?
- Para comer.
- E faz o que? Fica forte?
- Fica feliz.
- E é? Como você sabe?
- Porque as vezes os humanos estão com outra cor e caras ruins, comem e mudam. Fecham os olhos, fazem sons engraçados, sorriem e descansam. Dão a outros como se fosse algo valioso! E os outros sorriem também. Eles se conectam depois com os braços, com as bocas também, tem vezes. Essas coisas assim.
- Que bom. Interessante...
- Sim.
- Litinion! Minha conectora feminina precisa disso. Onde podemos conseguir?
- Olha por trás desse verde, está vendo aquela caixa sem cor com várias coisas dentro e luz?
- Sim!
- É ela que guarda o chocolate em pedaços, com varias cores que guardam ele.
- Como saber quanto comer?
- Bem, você come e muda, depois come mais e vai ficando mais feliz, e depois você vê que já está muito feliz pela sua energia, pelos sinais, pela sua barriga e então para.
- Se parar de comer deixa de ficar feliz?
- Não! Porque você já está bem feliz. Tem que gastar a felicidade primeiro, quando faltar você vai saber e então pega o chocolate e come outra vez.
- Ah... Entendi. Vamos lá agora!
- Não! Deixa os humanos saírem da caixa, não sabemos o que podem fazer. Você nunca viu um humano mudar de cor com cara ruim, não é nada bom. E a gente tem que pegar muitos! Vamos salvar nosso planeta de todo período raivoso com chocolate!
- Sim! Verdade. É de chocolate que nosso planeta precisa!

segunda-feira, 8 de julho de 2019

A Bela Pata infeliz

Amanda Lorrane era o nome de uma pata; com pelo dourado andava rebolando mais que suas irmãs, afinal treinará para não ser desengonçada; tinha os cílios viradinhos e olhos negros. Era linda e ainda andava com uma fita lilás no pescoço, porque Edileusa, sua dona, colocará.

Edileusa falou que ela era leonina porque os astros disseram. Ela não entendeu bem, como ela sendo pata, tinha algo de leão, cuja coisa em comum que ela via, era só o nome daquilo de onde saiam as garras dele. Mas enfim. Tentou entender não o motivo, mas o que isso interferia na sua vida. Entendeu que poderia então, justificar sua boa autoestima e isso bastava. 

Pata nova, mimada pelas mais velhas, desejada pelos patos machos, poucas amigas e com algumas muitas inimigas. Percebeu que isso de nada valia, não estava feliz. Pensou o que poderia ser, afinal recebia atenção de todos; era bela... Mas faltava algo. Os patos machos se atraiam pela sua beleza e sempre pensavam em algo prático que era multiplicar aquela qualidade em lindos patinhos. Por que então não estava feliz?

Amanda Lorrane queria um amor verdadeiro! Todos merecemos um, pensou ela. "Esse destaque todo pra mim, não dar chance para minhas poucas amigas e outras nem sequer me querem próximas. Todos conseguem as coisas porque buscam e pra mim é tão facilitado! Por isso que não sei fazer nada direito... Não me permitem nem errar para aprender. Sim, hoje sei que minha beleza atrapalha. Porque tudo que eu consigo com ela é superficial." A pata chorou e passou dias cabisbaixa; então sua avó percebendo isso, foi falar com ela.

- Minha Lôzinha, porque você está assim? O que deixou sua cabeça não olhar o horizonte, mas o chão?
Ela nada falou e tentou esconder as lágrimas caindo.
- Lô, você não é um avestruz faminto para estar com a cabeça quase enterrada no chão, diga-me o que houve.
- Vó Dina, a minha beleza atrapalha! Eu quase não tenho amigas! Os patos só me querem para reproduzir! Eu não aprendo as coisas como todo mundo porque me é muito facilitado... E eu deveria agradecer, não é? Pois é um privilégio ser bonita, mas eu não estou gostando mais de ser tanto. Estou confusa.
- E deveria ficar mesmo, minha querida. Mas vamos organizar as ideias dessa cabecinha, certo? A sua avó aqui, já foi muito bela, e ainda sou não é? Contudo todos tem o seu momento de destaque e o meu se foi. Eu tive que aprender algo dolorosamente bem depois, pois não tive esse seu pensamento quando nova. Meu amor, deixa eu te contar algo. Ser bonita por dentro transborda! É bom para você, é bom para atrair os outros almejando ser como você, mas em um bom sentido e claro, você pode ajudar as outras a serem bonitas, cada uma a seu modo, está bem? Cada uma possuí sua estrela.
- Estrela...?
- É, brilho.
- Vó eu não sei como faço isso. Por dentro, transbordar, estrela...
- Tudo o que nos é dado de bom ao nascermos deve ser usado para o bem. Se está fazendo mal tem algo errado. Não está sendo utilizado da forma certa.
- Como saber a forma certa?
- Faz bem aos outros e a você mesma.
- Então tenho que usar minha beleza para ajudar outros?
- Digamos que sim.
- Mas vó eu nasci assim: Linda!
- Lembra da estrela?
- Sim.
- A sua é mais clara, você já nasceu com ela bem acesa em relação a esse destaque, mas isso da beleza físcia, pode passar, basta um acidente, filha! Mas já que a tem, ensine as outras patinhas a encontrarem e ascender a estrela delas; e no caminho, você vai ver que aprenderá muito com elas também. Uma ajuda acender a outra permanecendo assim, brilhantes. Desse modo, todas vão ficar bem e tudo se resolve. Os patos machos, por exemplo, irão admirar cada uma com suas particularidades e se atrair mais por uma, do que outra. Seleção. É assim que acontece. Brilhem onde estiverem, meu amor. Todas. Isso não atrapalha uma a outra, só deixará esse universo mais feliz e bonito.
- Que lindo, Vó. Isso tem algo com os astros que a Edileusa fala?
- Tem um tanto disso, pois tudo está conectado.
- Entendi.
- Vó Dina... Quero fazer uma revolução!
- (Risos) Como, Lô?
- Eu preciso mostrar a elas as estrelas lindas que elas tem! Pra elas brilharem pra o mundo! Vou ensinar como destacar o que elas tem de mais agradável, é isso que faço. E vou... Preciso organizar isso com calma, não é? Mudará nosso mundo! Aqui na Lagoa de Beza, pelo menos.
- Sim (risos), vá pequena. Mas lembre! Pode ajudar a perceber o que elas tem de bonito que os olhos alcançam, mas aprenda e ensine, numa troca de conversas e amor, o que tem de bonito da personalidade, das atitudes; do que vem de dentro. Isso tudo sim, é ainda mais lindo e duradouro. Certo? Ah... E é um processo. Sem rapidez pra isso tudo.
- Certo!
- Lô, você verá o quanto você será mais bonita e feliz ao ajudar outras a serem. E não se preocupe, seu amor chegará no tempo certo. Ele está só esperando encontrar a revolucionará dele.
- (Risos) Obrigada, Vó! Um dia eu quero ter a minha estrela brilhando como a sua! Aliás, com a tua!

quinta-feira, 7 de março de 2019

Mania de cor

Eu estou de vermelho e rosa hoje. A cada toque seu as variações são somente pra esses tons, você entende de cores? Por favor, entenda porque eu me transmito assim. Cromo. Somos. Sou. 

Tenho mania de cor, isso é mal de pintora... Mas também o meu bem, "dom", alguns falam. Se não tenho tela aqui, me ponho assim, feito arte e me faço pintura das emoções aceleradas no peito. Ver... E me enquadra um pouco pra admirar. Por pouco tempo, apenas, e já me toca para eu poder continuar variando, me pincelando nesses tons...Vem. 


Eu arteira, hoje estou de vermelho e rosa. De fogo e ternura a cada vez que você me toca. Abstrato de vermelhos rosês, sem descrição. Sem discrição... Sem palavras agora; apenas vem e continue aqui.

Sessão 34 - Gênero

Nome: Joana Andrade Côrtez.
Idade: 7 anos.
Demanda: Os pais se divorciaram e acreditam que ela possa ter problemas de superação por guarda compartilhada. 

Depois de dois meses de atendimento, não detectei nenhum grau que implique em uma relação conturbada por parte da criança em relação aos pais. Apresenta estar esclarecida, satisfeita porque é assim que os pais resolveram "ser feliz" e acredita (porque assim ouviu) que as pessoas tem mesmo esse direito, então... Encerrarei os atendimentos se assim, ela também, desejar. Falarei com a Mãe, Lívia também.

Sra Lívia: - Bom dia, eu preciso falar contigo antes de atender a Joana! Ela não está bem! Agora quer ser um garoto! Um garoto! Céus... Sabia que algo desencadearia nela, será que é porque só ver mulheres agora lá em casa? Minha filha deve estar pensando que eu sou lésbica doutora!

Psicóloga: - Bom dia... OK. Pelo histórico dela não acredito que tenha desencadeado isso pelo divórcio. Mas me fale um pouco como a Joana te trouxe isso?

Sra Lívia: - Ela chegou e disse que queria ser um menino, porque acha que é mais "legal"! Eu perguntei de onde ela tirou isso e ela respondeu: "Do que eu vejo! Da vida." Eu não sei o que faço com essa garota doutora! Tenho que arranjar um namorado? Como eu vou chegar e dizer pra professora dominical que a minha menina quer ser um garoto agora? Como irão olhar pra ela?!

Psicóloga: - Calma, eu sei que isso afligiu você, contudo, gostaria de saber mais e melhor também a respeito, pelas palavras da Joana; conversarei com ela, certo?

Sra Lívia: Por favor, reverta isso se possível. Estou em pânico! Tenho que saber pra que daqui a pouco o irmão dela não venha com essas idéias também.

Psicóloga: ...
(...)

Na sala de atendimento. 
Psicóloga: - Bom dia.

Joana: - Bom dia!

Psicóloga: - E então, como foi sua semana?

Joana: - Tranquila... Mas tenho pensado em algo que ouvi na TV.

Psicóloga: - E o que ouviu?

Joana: - Que as pessoas podem escolher ser homem ou mulher.

Psicóloga: - E o que você achou disso?

Joana: - Ué... Estranho, mas legal!

Psicóloga: - Por que?

Joana: - Porque posso usar apelidos diferentes, neh? Jô e Ana.

Psicóloga: - Humm... Só por isso?

Joana: - Não! Imagina só... Eu quero ser menino hoje, ok? Então eu posso brincar de luta! Eu posso brincar de correr mais, posso usar mais shorts confortáveis, minha mãe não vai pedir pra enxugar louça; eu vou poder brincar em carros de corrida e não usar aquelas tiaras de laços enormes que me deixam com dor de cabeça! Eu vou poder sair mais rápido de casa porque não preciso passar batom e pó nas bochechas só pra dizer que sou saudável; não vou ter que aprender a cozinhar e nem cuidar de bebês e segundo minha mãe, também do marido quando eu tiver um. Acho muito cansativo só de pensar! São tantas coisas como vantagens, sabe?

Psicóloga: - E porque pra isso você tem que ser um menino e não uma menina?

Joana: - Não entendo porque me pergunta. A resposta é simples: porque é assim que é.

Psicóloga: - Não pode ser diferente?

Joana: - Como?

Psicóloga: - Fazendo tudo isso sendo uma garota. Você pode fazer isso sendo uma.

Joana (Risos): - Isso seria... Não seria. Não é.

Psicóloga: - Por que não pode ser?

Joana: - Porque meninas são pra umas coisas e meninos pra outra.

Psicóloga: - Quem determina isso?

Joana: - Todo mundo! Perai... Você está dizendo que uma garota pode fazer o que um garoto faz, como você sabe disso? Foi na TV também ? Estudaram isso foi?

Psicóloga: - Também passa na TV, na verdade foi comprovado isso por muita gente.

Joana: - Uaauuuu... Minha mãe não sabe disso! Você tem que contar pra ela! Ela não sabe disso!

Psicóloga: - E agora? O que acha sobre ser um garoto?

Joana: - Eu não estou vendo mais sentido... Porque se eu posso fazer muitas coisas legais, de tudo! E também não querer fazer outras, então fica melhor ser menina assim... Eu gosto de mais coisas de meninas. Mas tem uma coisa.

Psicóloga: - O que?

Joana: - Você tem que contar pra minha mãe que descobriram isso! Ela vai gostar, eu acho! Eu não sei o que ela quer fazer sabendo que pode fazer outras coisas, mas só saber dessa novidade é muito legal!

Psicóloga (risos): - Sim... Eu vou contar pra ela. 

Das trevas a Luz


Por sobrevivência, por sutilezas e sagacidade, descobre-se que o falar ilumina. Como um espelho você se ver, se ler e leva luz de entendimento com um processo de tempo, mas leva sim, claridade aos pensamentos. Assim também, você descobre que o que tinha não é tão assustador quanto não poder fazer nada. Sempre pode estando ainda aqui; nem que seja apenas aceitar que deve mudar para o novo caminho que agora se apresenta; nem que seja refletir a luz que chega do outro, como uma lua, reflexiva. 

[A luz, a verdeira luz estará até o fim dos tempos. Lembrar disso, há luz!]

Conectada, deixando escapar por entre olhos, por entre dedos, pés, por inteira... Nesse luminoso transbordar me encontro ressignificada e em paz pelo tudo, pelo nada; por meio dessa iluminância ao mundo adentro e a fora.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Uma gata de rua

Me restam 10 minutos. O que se faz em 10 minutos quando você pensa que dispensou anos da sua vida? O que são míseros 10 minutos? Por que eu resolvi fazer algo nesses 10 minutos? É que eu suspeito e receio, aliás temo muito que quando eu receber aqueles exames, cada minuto será mais importante, bem mais! E de repente me bateu um desespero como um pedido de socorro de mim mesma para a vida, não partir sem... Não sei. Já se passaram 3 minutos.

Espero que a internet esteja boa. Para onde eu preciso ir antes de ir para o além?... Para onde eu quero ir? Acho que posso ousar com tanta grana que juntei para minha estabilidade, para tantos boletos que ainda nem fiz, para as tais emergências, essa é uma emergência: ser feliz! Onde... Onde... Cartagena! Não conheço ninguém de lá, nunca precisei falar outra língua e é lá que vou praticar, saber um pouco de sua cultura, não é muito longe daqui; vou tirar fotos daqueles prédios coloridos maravilhosos e aproveitar as praias paradisíacas. Fotos? Pra quê? Cartagena. Uma semana. Hotel... Esse já está bom.

Ainda me restam alguns minutos... Orar:

- Deus, minha vida está sem sentido (e eu preciso de muitos); perdão por tantos maus feitos; me permita viver por enquanto, aqui na terra mesmo, porque eu acho que tenho muito a aprender ainda. Deixa eu encontrar essa vivência que as pessoas tem e conseguem de todo coração dizer que tu és "bom o tempo todo". Sentir umas coisas e preenchimentos e felicidades que vem de ti. Vivem dizendo que você é amor. O amor pode me amar estraçalhada assim? Dizem que sim... Vou acreditar ao menos dessa vez e ver se tu é capaz disso mesmo. Eu me converto. Me aceita, por favor. Amém. 

Alguns poucos minutos... Ele não sabe que o amo. Eu me contive por sempre ser escrota. Não me acho digna dele. Imatura. Eu fugi quando ele mais me queria e eu também, porque não acreditava que aquilo poderia ser verdade. A minha família se relaciona de uma forma... Cheias de porcarias! Eu não tenho boas referências e aprendi a ser ruim, por defesa, a não ficar com um homem só, mas a usá-los. A ter vários... De várias tamanhos e cores, meus brinquedos, no meu jogo infinito de vício em sedução, em exploração, em ser bem sucedida no trabalho, independente e a noite, beber um whisky caro, colocar um vestido colado para valorizar as minhas horas gastas em procedimentos cirúrgicos, estéticos e academia; sair e acabar com outros relacionamentos, colocar em questão o amor alheio, só pra provar que se não existe para mim, não deve ter pra ninguém. Só pra provar que um cigarro é mais charmoso que pulmões limpos, quem se importa com o que existe por dentro mesmo?

Sair e provar pra todos que eu posso ter o que quiser com ousadia, com atitude, com algumas palavras que alimentem egos; com a solução para as fraquezas atraio as presas, vãs palavras de compreensão e acolhimento para conseguir o que quero, usufruir do que é bom do outro. Poder; por meio daquilo que as pessoas tem de ruim em si: Suas ganâncias, suas carências, suas carnes. Pois é, mas eu não consegui provar nada disso com  ele, o Elis!

Ah, o Elis... Ele falava em graça, diante da desgraça que é minha vida. Que pelo amor, pela graça eu seria salva. Achei baboseira porque sempre fui salva por eu mesma. Contudo, somente ele tinha esse dom: me puxar para ser salva de mim mesma. Eu tive medo da mudança, de me estranhar e me perder;  perder as referências e não saber mesmo quem sou. Porque, hoje eu sei o que sou! Sou ruim é isso. Dissimulada, independente, gananciosa, ousada, vingativa, fria, desconfiada, investigativa, suave e firme no caminhar, um gato de rua ou, uma gata de rua. 

O vislumbre da morte, me trouxe o desespero; receio aquilo que não tenho controle. Pra onde eu vou depois que eu... for? Eu amo isso aqui! Os prazeres mesmo diante das desgraças que tenho. Eu não sei morrer. E se for pra morrer agora, quero que morra essa minha versão.

Darei credito ao bom, a Elis; a esse mundo que ele enxerga mesmo estando aqui, nesse caos de terra. Darei credito a esse Deus, porque se ele diz que aprendeu o que tem de bom com esse Deus, Ele deve ser lindo. Deve ser um óculos bom de se colocar, um professor bom de ter, um revolucionário para mudar essa sujeira toda que temos, certamente. Ele tem que ser muito bom, mas muito bom mesmo! E como ser bom e não ser besta? Quase não desassocio, mas por amor a vida, que é a única coisa que amo e a Elis que me desafia, que em atrai porque desconheço a lógica de alguém ser como ele é, por esse sentimento que ouso chamar de amor [porque deve ser], vou enviar mensagens das coisas bonitas que ele desperta e falarei também do quanto difícil é falar sobre isso. Ele me responderá, nem que seja me reprendendo, me beijando. (...) Mensagem enviada, recebida, visualizada.

[Por que deve ser amor? Eu penso nele todos os dias, é a única pessoa que consegue me incomodar e me confortar ao mesmo tempo; é a única pessoa que desejo até a alma, mas sem querer sugar, quero preservá-lo assim, bom... E cuidar... E... umas coisas bonitas aparecem em mim, pensamentos poéticos, uma apreciação a música romântica, a querer uma família, uns absurdos para minha lógica, ao que sempre fui. Ele me faz querer mudar, e apesar de tanto medo, talvez possa ser bom. Permitir amar. E se não der certo essa historinha toda... Morrerei feito gata de rua. Depois de sete vidas, eu que pareço invencível, morrerei de forma ruim, pagando pelo que fui antes.] 

Conta-se 6 dias que não fui respondida. Cada dia morro mais... Morro mais em Cartagena. Lindamente, em Cartagena. Convertida, em Cartagena! Não correspondida... Vivendo só em planos de fundos culturais e paradisíacos; eu Luíza de Helena, sem reluzir nada. 

O celular está tocando e é um número do Brasil que não conheço! Será que é ele?

- Alô!
- Sra Luíza Helena de Almeida?
- Sim, quem fala?
- Falo em nome da Clínica Mário Cavalvante, tudo bom? O seu médico, Dr. Roberto, gostaria de marcar um retorno urgente com a senhora. Pediu para que de antemão eu também informasse a senhora, que são boas notícias.  
- Boas notícias? Estou em outro país. Voltarei em 3 dias. Não tem como adiantar isso aí? 
- Não senhora, ele quer encontra-lá pessoalmente. 
- Ok. Quando voltar irei. Obrigada! 
- Por nada. Tenha um bom dia. 

Que coisa! Não mereço uma resposta... Eu não tenho nem para quem ligar. Não lembro dos meus pais biológicos, a Soraya que me criou naquele trailer horroroso se foi e minha vida hoje é tão melhor longe das pessoas daquela região! Tenho tudo! De alta quidade... Só falta amigas; não tenho pra quem ligar mesmo.

Dias se passaram aqui e eu percebi que as maravilhas das bebidas, dos cigarros, dos deuses gregos, dos lugares, das compras, dos filmes, de nada estão valendo ou fazendo sentido agora, na verdade desde que comecei a ficar, aliás me sentir doente, que já não fazem. A maravilha foi ter uma boa noite de sono, sozinha. Na real mesmo? Tudo isso nunca fez muito sentido, mas sempre foi melhor que viver me iludindo em busca de caras bons, em família de comercial de margarina e acreditando nos filmes bobos que me fazem (sim) chorar. 

Preciso dizer que estou morrendo, mas o Elis nem ao menos falou algo pra que eu pudesse introduzir esse assunto. Silêncio, recebi silêncio. Hora de ir pra casa e saber das boas notícias. Talvez, um remédio que não vá cair o cabelo? Triste. Minh'alma se encontra inteiramente triste, confesso, porque não terei muito tempo de vida, porque minha vida tão amada por mim, não tem lá um bom gosto quando olhada de muito perto. Sempre houve um buraco. E agora tem um no meu estômago e células malucas querendo criar mais vida, exageradas como eu mesma, querendo tanto viver, causando a morte. 

[Já na clínica.] 

- Sra Luiza Helena de Almeida, o Dr. Roberto aguarda a semhora em sua sala.

E lá vou eu, me dirigindo a porta com meu humor abaixo dos meus calos.

- Boa tarde, Dr. Pois não... Conte essas tais boas notícias. 
- Boa tarde, Luiza. Sente-se fique a vontade. 
- Obrigada. 
- Eu gostaria de pedir imensas desculpas, em nome da Clínica, pelo ocorrido; os resultados dos seu exames foram trocados. Espero que a senhora receba isso da melhor forma.
- Como assim trocados? Me restam menos tempo ainda? É pior?? O que eu tenho??
- Um bebê. Você tem um bebê no seu ventre. Apenas. 
- Um bebê...? 
- Sim. O que você tem na sua barriga não é para causar morte. Você está gerando uma vida; uma nova vida pra você. 
- Deus... Você tem certeza? Conferiu a minha ficha? Não é mais um erro? 
- Não (risos), a menos que esse bebê seja um erro pra você.
- Não sei. Quer dizer... Eu nunca pensei em julgar uma pessoa que ainda está sendo formada. Em mim! Em mim, neh? A quanto tempo isso? 
- Três meses. Ou melhor, 12 semanas. 
- Então todos aqueles sintomas horríveis... Eram isso?
- Sim. 
- Nossa... E agora?
- (Risos) Agora vou te encaminhar e indicar médicos da área. Seu acompanhamento será com pediatras.
- Ah. Ok. Vocês me fizeram sentir que eu iria morrer logo, sabia?! Sabia, claro! Foram os dias mais tristes da minha vida e eu nunca coloquei tantas cartas na mesa pra mim mesma! E eu não estou conseguindo ter raiva imensa de vocês para processá-los porque não estou sabendo lidar com isso agora. Eu estou muito confusa! Extremamente confusa... Inferno. Ou melhor, céus... 
- Eu entendo. E não sei como podemos nos retratar. Mas é isso.
- Ok. Posso ir agora? 
- Aguarda só eu fazer o encaminhamento?
- Certo.

[...]

O que eu vou fazer com uma criança? E eu não sei nem com quem eu a fiz! [Celular chamando] É ele! Ah... Finalmente!

-Alô...
-Oi... Como você está? Chegou de viagem?
- Ah, sim... Estou um tanto melhor, eu acho.
- A viagem fez bem, então?
- A volta foi melhor.
- Pelo quê?
- Por que eu tenho algo que vai me forçar a cuidar mais de mim inicialmente, ser uma pessoa melhor, por mim mesma e por outra pessoa.
- Alguém?
- É.
- Humm... Então se resolveu com outro? Eu não sei porque liguei pra você. Decepcionante!
- Mas não é um cara!
- Variando agora, só o que faltava mesmo. Eu desisto de você. Na verdade, eu acho que já desisti faz tempo. Liguei apenas para não ficar com um peso na consciência ao ir para igreja. Adeus... Faça um favor a mim de sumir!
- Mas...
[Desligou]

Minhas mãos ficaram pequenas para cobrir a minha vergonha, eu precisava me esconder inteira, no caso, o corpo todo, porque eu mesma já estava estraçalhada. As lágrimas desciam como se minha cabeça estivesse anuviada e pesada... Gotas e mais gotas de uma tempestade em soluços. Me vi, morrendo de novo. Com a vida escassa, nível baixo. Esse ser não teria a força de fazer o tal sentido agora, da minha vida? Na real, eu poderia morrer agora mesmo, porque o caos me atormenta do início ao fim de mim; cinza. Parada enfrente a uma loja de conveniências; eu inconveniente nessa vida, nem um chocolate barato estava valendo.

- Moça...

Falará um rapaz de timbre leve, pouco rouco e eu com os olhos exarcados, quando ouvi, tentei abri-lós para espiar por entre os dedos, caiu gotas enormes que estavam guardadas entre as pálpebras pressionadas. Tudo turvo. Pensei: Devo estar com minha pior cara; um tomate amassado; ele prosseguiu:

- Posso ajudá-la?

Eu soluçava... E me recolhia mais como se coubesse toda nas minhas próprias mãos. Sim eu sentei, numa espécie de mureta, feita para qualquer coisa, que agora servia bem para me apoiar e não cair. Eu só chorava, mas tentando me conter pra ser baixinho. Entrei em um luto, de uma dor forte. Estava eu perdida! Morta de mim. Como uma criança que só sabe chorar, sem saber como é o mundo e o que realmente quer. A dor da falta e das lacunas, por ora, inexplicáveis.

- Tome; é água. Eu ainda nem abri, você pode ficar com ela.

Peguei o casaco que havia escorado na alça da bolsa, enxuguei o que podia das lágrima no meu rosto e pescoço, depois o fitei.

Alto, negro, jovem, cabelo trançado baixinho, roupas coloridas e esportivas... E um sorriso tímido, mas acolhedor. Aceitei a garrafa e agradeci (esperando que ele fizesse leitura labial e tivesse entendido). Ele sorriu com mais afeto, então entendeu, e disse:

- Hora de você se cuidar. Se hidrate. Levante, agradeça o que Deus te deu. Ele estará contigo até o fim dos tempos e te ensinará como amar essa mudança. Bem vinda de volta. Maktub, moça... 

Eu o ouvi perplexa. Não consegui chorar, houve uma pausa no tempo, eu singela sorri. Ele se baixou, pegou um skate, posicionou e saiu passeando na rua; e eu fiquei olhando pra ele até não conseguir mais alcançá-lo.