Nome: Joana Andrade Côrtez.
Idade: 7 anos.
Demanda: Os pais se divorciaram e acreditam que ela possa ter problemas de superação por guarda compartilhada.
Depois de dois meses de atendimento, não detectei nenhum grau que implique em uma relação conturbada por parte da criança em relação aos pais. Apresenta estar esclarecida, satisfeita porque é assim que os pais resolveram "ser feliz" e acredita (porque assim ouviu) que as pessoas tem mesmo esse direito, então... Encerrarei os atendimentos se assim, ela também, desejar. Falarei com a Mãe, Lívia também.
Sra Lívia: - Bom dia, eu preciso falar contigo antes de atender a Joana! Ela não está bem! Agora quer ser um garoto! Um garoto! Céus... Sabia que algo desencadearia nela, será que é porque só ver mulheres agora lá em casa? Minha filha deve estar pensando que eu sou lésbica doutora!
Psicóloga: - Bom dia... OK. Pelo histórico dela não acredito que tenha desencadeado isso pelo divórcio. Mas me fale um pouco como a Joana te trouxe isso?
Sra Lívia: - Ela chegou e disse que queria ser um menino, porque acha que é mais "legal"! Eu perguntei de onde ela tirou isso e ela respondeu: "Do que eu vejo! Da vida." Eu não sei o que faço com essa garota doutora! Tenho que arranjar um namorado? Como eu vou chegar e dizer pra professora dominical que a minha menina quer ser um garoto agora? Como irão olhar pra ela?!
Psicóloga: - Calma, eu sei que isso afligiu você, contudo, gostaria de saber mais e melhor também a respeito, pelas palavras da Joana; conversarei com ela, certo?
Sra Lívia: - Bom dia, eu preciso falar contigo antes de atender a Joana! Ela não está bem! Agora quer ser um garoto! Um garoto! Céus... Sabia que algo desencadearia nela, será que é porque só ver mulheres agora lá em casa? Minha filha deve estar pensando que eu sou lésbica doutora!
Psicóloga: - Bom dia... OK. Pelo histórico dela não acredito que tenha desencadeado isso pelo divórcio. Mas me fale um pouco como a Joana te trouxe isso?
Sra Lívia: - Ela chegou e disse que queria ser um menino, porque acha que é mais "legal"! Eu perguntei de onde ela tirou isso e ela respondeu: "Do que eu vejo! Da vida." Eu não sei o que faço com essa garota doutora! Tenho que arranjar um namorado? Como eu vou chegar e dizer pra professora dominical que a minha menina quer ser um garoto agora? Como irão olhar pra ela?!
Psicóloga: - Calma, eu sei que isso afligiu você, contudo, gostaria de saber mais e melhor também a respeito, pelas palavras da Joana; conversarei com ela, certo?
Sra Lívia: Por favor, reverta isso se possível. Estou em pânico! Tenho que saber pra que daqui a pouco o irmão dela não venha com essas idéias também.
Psicóloga: ...
(...)
Na sala de atendimento.
Psicóloga: - Bom dia.
Joana: - Bom dia!
Psicóloga: - E então, como foi sua semana?
Joana: - Tranquila... Mas tenho pensado em algo que ouvi na TV.
Psicóloga: - E o que ouviu?
Joana: - Que as pessoas podem escolher ser homem ou mulher.
Psicóloga: - E o que você achou disso?
Joana: - Ué... Estranho, mas legal!
Psicóloga: - Por que?
Joana: - Porque posso usar apelidos diferentes, neh? Jô e Ana.
Psicóloga: - Humm... Só por isso?
Joana: - Não! Imagina só... Eu quero ser menino hoje, ok? Então eu posso brincar de luta! Eu posso brincar de correr mais, posso usar mais shorts confortáveis, minha mãe não vai pedir pra enxugar louça; eu vou poder brincar em carros de corrida e não usar aquelas tiaras de laços enormes que me deixam com dor de cabeça! Eu vou poder sair mais rápido de casa porque não preciso passar batom e pó nas bochechas só pra dizer que sou saudável; não vou ter que aprender a cozinhar e nem cuidar de bebês e segundo minha mãe, também do marido quando eu tiver um. Acho muito cansativo só de pensar! São tantas coisas como vantagens, sabe?
Psicóloga: - E porque pra isso você tem que ser um menino e não uma menina?
Joana: - Não entendo porque me pergunta. A resposta é simples: porque é assim que é.
Psicóloga: - Não pode ser diferente?
Joana: - Como?
Psicóloga: - Fazendo tudo isso sendo uma garota. Você pode fazer isso sendo uma.
Joana (Risos): - Isso seria... Não seria. Não é.
Psicóloga: - Por que não pode ser?
Joana: - Porque meninas são pra umas coisas e meninos pra outra.
Psicóloga: - Quem determina isso?
Joana: - Todo mundo! Perai... Você está dizendo que uma garota pode fazer o que um garoto faz, como você sabe disso? Foi na TV também ? Estudaram isso foi?
Psicóloga: - Também passa na TV, na verdade foi comprovado isso por muita gente.
Joana: - Uaauuuu... Minha mãe não sabe disso! Você tem que contar pra ela! Ela não sabe disso!
Psicóloga: - E agora? O que acha sobre ser um garoto?
Joana: - Eu não estou vendo mais sentido... Porque se eu posso fazer muitas coisas legais, de tudo! E também não querer fazer outras, então fica melhor ser menina assim... Eu gosto de mais coisas de meninas. Mas tem uma coisa.
Psicóloga: - O que?
Joana: - Você tem que contar pra minha mãe que descobriram isso! Ela vai gostar, eu acho! Eu não sei o que ela quer fazer sabendo que pode fazer outras coisas, mas só saber dessa novidade é muito legal!
Psicóloga (risos): - Sim... Eu vou contar pra ela.
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