
O corpo dela não permite o hábito, chegou como "insight". Para além dela pensante, há o corpo dela tão complexo na sua constância de variações; hormônios sobem e descem, naturalmente. Fito-a com surpresa, ela na verdade tem que lidar com isso todo mês?

Uma flor despedaçada em vermelho vivo, causa dor. Dor lá no ventre, como também na sua cabeça no primeiro dia. Com o escorrer tinto de seu ventre, vai embora o poder de ser mãe, o desejo de ser mãe; ou vai o alívio de ainda não ser mãe, mas vai causando incômodo; aparece durante alguns dias a marca vermelha lembrando que ela multiplica nações. Vai a marca da preparação fraternal, vai a marca da sua busca incessante física de ser um com outro e gerar algo bom, gerar vida. Seu sangue mostra a imposição que lhe foi dada: ser mulher. E o que é ser mulher para além disso? Pensei. Mas isso são outras histórias.

Vi que ela aprendeu a se amar mesmo sendo estranha para ela mesmo, percebeu que independente disso, ela merece amor; que pode curtir a sua escuridão até chegar novamente a luz, sem medo de ficar lá por muito tempo; que ela pode comer e nutrir até sua alma sem receio de engordar; que pode levar afeto numa compressa que aqueça sua pele até chegar no seu ventre machucado; que ela pode parecer uma menina de 12 anos que levanta da cama e vai para o sofá assistir desenhos e filmes bem "sessão da tarde" até ela enjoar; que pode chorar e rir por uma bobagem com uma sensibilidade de poucas palavras ou mesmo, vendo uma cena afetiva; que um banho demorado é bom; que ela pode dispensar compromissos por não estar tão bem, que ela pode aceitar também se assim quiser, mas sem cobrar tanto, afinal, seu corpo está energicamente consumindo mais para uma região e é nela, dela. Foco em si mesma.

Ela aprendeu que pode fazer mais um pouco disso tudo em outros dias! E se não fizer, não importa a correria, o corpo dela uma semana do mês avisa, que ela deve parar para esse encontro. Para cuidar de si, cuidar do seu corpo que também é lar.
Admirei suas nuances, seus altos, seus baixos. Que beleza entre algo delicado e brutal ela tem nessa dança, sim, ela dança com isso, nisso... Levantei de onde estava e sem dizer nada ofereci o cuidado que ela as vezes esquece ou não consegue ter, mas precisa: um abraço. Assim juntei seus pedaços e inteira ou inteiros, ficamos ali; ela lambuzada de chocolate e eu fingindo não querer um pouco pra não irritar ela.