terça-feira, 27 de novembro de 2018

Mariana e o Café (Continuação)

Café, como seu próprio nome, era enérgico!... Aquecedor dos corações de quem o via, era afeto servido em graça. Mariana acordava com ele sendo despertador, quando chegava da escola ele a recebia, tinha que sair com ele para passear fim de tarde; brincava com ele, contava seus pesares, as pessoas na vizinhança o conheciam, era bagunceiro e ao mesmo tempo metódico com alguns coisas.

Acordava sempre no mesmo horário, chamava Mariana para escola, comia sua ração molhada no leite de manhã desde o dia que ela percebeu que ele gostava dos cereais dela também mergulhados numa tigela; gostava de brincar e tomar banho quando os regadores de plantas que eram automaticamente ligados às 11hs, se secava ao sol e até cochilava em cima de um pedaço de madeira que encontrara e levou pra lá (nada de grama grudada nos pelos); assistia novela com a mãe da Mari e sempre muito sensível, se aproximava de quem estava mais triste como se fosse dar um apoio; tinha um mal habito de furtar pães; gostava de picolé de maracujá; balançava a cabeça ritmado quando ouvia reggae, latia sem paciência quando colocavam pagode; ficava super feliz quando chegava algo pelos correios, quando levavam ele para tomar banho de mar e quando iam visitar Dona Laura. Parecia sempre sorridente; mas não aceitava algumas coisas como: colocar gravatas nele; palhaços e também uma colega de Mariana que morava próximo a casa dela. Depois ela entendeu que ele estava avisando que a garota não tinha uma boa índole. 

Mariana amava Café, o Café amava Mariana. Ele era um "tudão". Amigo, filho, irmão, confidente, cúmplice, despertador, admirador dela, livre, bagunceiro em vários aspectos, ladrão de pães; seletor de pessoas boas e era a sua companhia. Até que, Mariana resolveu conhecer melhor um rapaz, o Sam. Foi então que, começou a falhar com as saídas fim de tarde com Café e ele começou a ficar estressado e triste. 

Certo dia chegou ela, com um rapaz de cor branca amarelado, com olhos puxados e um cabelo preto estirado curto, mal penteado; uma camisa maior que ele, uma bermuda cheia de bolsos; e havia algo bem cheiroso naqueles bolsos. Eram biscoitos! Que logo atraíram o Café. Ah... Esse rapaz, o tal de Sam que ela inventava de chamar também de amor, gostou de Café e Café gostou dele, resolveram ser amigos em nome da Mariana que eles amavam, apesar dela agora dividir a atenção entre eles dois juntos. Café sentia uma falta e essa falta acabou quando Sam trouxe alguém, a Milka. 

Linda... Branca com uma neve, aliás, como leite! Que linda... Ela tinha pelos mais longos, um andar charmoso e leve, desfilava; porte médio, parecia estar sempre zen; cheirosa, com um laço em xadrez vermelho com verde na franja (já era Natal? Ela veio como um presente para vida do Café). Ele ficou tão feliz como nadar na praia, comer pão, picolé de maracujá e tudo mais. Parecia um bobo apresentando suas facetas e seus gostos a Milka e ela mesmo tímida, se mostrava bem contente. 

Mariana e Sam os observavam e sorriam, olhando aquele romance... Eram um belo quarteto. Quiseram juntar tudo e multiplicar: Família. Resolveram então que seriam Mariana, Sam, Café, Milka, um bebê e alguns filhotes... Então chegou: Samuel; Marrí, Capuccino, Pipa, Camí, Laurinho e Ninho... Eis que a felicidade ficou, com seu combo, mais completa.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Mariana e o Café

Se é pra falar de romance, tenho que descrever a relação da Mariana com o Café. Ela tinha doze anos quando sua avó resolveu presentear a garota com um cachorro. Dona Laura, senhorinha simpática, morava no interior, alguns quilômetros da casa de Mariana e só via a neta uma vez na semana quando a mãe sempre a visitava aos domingos pela manhã. Ao chegar na casa da avó, ela e sua mãe se dirigiam direto para cozinha que representava bem o tal coração da casa. 

Quantos aromas sentiam lá! Sua avó caprichosa sempre recebia elas com uma mesa muito bem posta, decorada com flores frescas em alguns vasos e louças brancas que ornavam perfeitamente com as toalhas de mesa alegremente estampadas e coloridas; além de uma comida caseira super atraente. Era sempre uma refeição banquete para o paladar, para o olfato e para os olhos! Ali, na mesa entre prazeres, elas falavam do cotidiano e histórias, nem sempre tão agradáveis, mas o contexto e a sábia Dona Laura, amaciava. 

[Eu posso falar mais sobre ela depois, esta senhorinha linda cor de cacau.]

Dentre tantas conversas, a avó observou que Mariana ficava muito sozinha quando em casa, seus pais se divorciaram, seu irmão casou cedo com uma moça e foi morar em outro país; ela certamente precisava de afeto, alimentar essa troca, ao mesmo tempo que, deveria desenvolver cuidado com o outro (tinha ficado meio egoísta por defesa); e então decidiu que compraria um cachorro para a neta como presente de aniversário.

Alguns dias se passaram e chegou o aniversário da pequena Mariana. A mãe levou a garota ao shopping, comprou roupas novas; renovou o cabelo no corte e na cor, ela agora não só tinha lindos cachinhos cor de mel, mas também um rosa nas pontas. Isso a deixou mais animada, e também porque encontraria suas amigas a noite para ir a uma pizzaria. Mas ao chegar em casa, do seu cabelo a ao teto da casa, uma explosão de cores! Muitos balões e uma mesa maravilhosa com doces, muitos sorrisos e aquela música familiar de "parabéns". Foi então que veio sua avó com um lindo presente de fita vermelha no pescoço, era um cachorrinho marrom escuro, de olhos bem redondos e abrilhantados, um labrador, um amigo que ela chamou  prontamente de Café. 

domingo, 18 de novembro de 2018

Medo, fetiche e sonho

- Só um segundo... 
- Que? 
- É a minha primeira vez. Eu preciso me concentrar pra respirar melhor. 
- Tudo bem. 
- Não servem remédios pra ansiedades aqui? Algo pra dormir durante todo o vôo? Pra que serve isso aqui...? 
- Moça, fica tranquila. [Falou o homem da poltrona ao meu lado] Por que não vai comer e ouvir música? 
- Você está me zoando, não é? Eu ficaria enjoada... Enfim. Desculpe. Estou nervosa. Qual seu nome mesmo? 
- Tudo bem. Douglas. E o seu? 
- Susana... Quantas vezes já viajou de avião? 

E tudo começou a partir desse diálogo. Eu o atropelei em palavras de tão nervosa e ele tinha uma calma... Feito onda que vem forte e chega manso na terra. Assim era ele, viril e sutil. Esqueci meu medo de voar de avião depois daquela voz calmante, daquele jeito interessante... Boca, impossível que beijasse mal, seria? Uma barba bem feita, cabelo baixinho iluminado, um suéter azul escuro contrastando com sua pele bronzeada cor de caramelo; ele falava e eu prestava atenção nos seus traços. Lindo e parece tão saudável. Um relógio no punho e... Não tem aliança?? Perfeito! 

Ele também gostou de mim, compartilhamos risos, olhares que falavam mais, um toque na mão, um beijo suave e... Turbulência! Algo aconteceu de errado no avião! Minha vida acabaria ali mesmo nessa tragédia! Logo quando eu conheci o cara que poderia, que poderia realizar um sonho meu! Pedi algo inusitado: 

- Faz sexo a primeira, última e única vez comigo no banheiro? 
- Você está louca?? 
- Ao menos a gente morre feliz! 
- Você é louca! 

Fitei loucamente ele como quem está no deserto muito tempo e de repente ver água. Sede! Que sede!

- Mas vamos! Tentar me desconcentrar disso aqui, eu não sei se consigo! M-o-r-r-e-r feliz, ok?
- Então vamos! 

Foi o sexo mais louco e gostoso que eu poderia fazer naquela cabine que balançava tanto que me senti dentro de uma batedeira. Terminamos com uma adrenalina nas alturas! Estávamos no céu, sim estávamos!! E como quem vos fala não veio do além, pois é, eu sobrevivi. Engravidei, realizando assim meu sonho por meio de um fetiche voado: Mãe, sem marido pra intervir e gerar uma educação machista. Feliz. Ele... Bem, morreu, porque o avião caiu mesmo! Mas morreu depois de ter dado continuidade ao seu gene (que pra mim era o que importava). 

Desde então não viajei mais de avião; não estar nos meus planos outra gestação agora

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Monotonia

Ela andava rápido como se estivesse pronta para pular num vagão de um trem em movimento e observei que havia um padrão em seu estilo; sempre passava vestida com calça jeans até a altura dos joelhos, tênis branco, blusa branca, preta ou cinza; uma bolsa tipo daquelas de carteiro cor de chumbo; um rabo de cavalo ou um coque mal arrumado que deixava o cabelo de fios avermelhados sempre com mais charme e também usava óculos, que mais parecia um acessório de composição do que algo para proteger seus olhos. Eu achava linda aquela mulher de pele clara e lábios cor de pêssego. Monocromática. Tão bela se mostrava essa garota do cabelo aquecido que passava pela calçada como um vulto e parava apenas para esperar o semáforo deixá-la atravessar.

Eu a observo do vidro que nos divide, entre uma calçada e uma cafeteria que eu costumo ir antes de trabalhar. Fico imaginando como será o nome dela: Simples, duplo, pequeno, grande ou de detalhes exagerados? Poderia ter três letras; acho que já a definiria. Ana, Eva, Lis, Zoe, Mel, Isa... Para onde ela deveria ir assim sempre que eu a via? Sua roupa não me dizia nada. Seria uma babá? Uma fotógrafa? Uma aluna? Uma microempresária? Bem... Com os passos firmes e sua velocidade, essa mulher poderia ser tudo e ir aos lugares mais incríveis que ela possa imaginar.

Mais um dia e lá vem a moça. Olha só! É a primeira vez que eu a vejo sorrir. Hoje ela veio pausadamente com um cachorro peludo cor de chocolate nos braços; hoje ela colocou um calçado vermelho, uma tiara azul no cabelo... Hoje ela continua linda, mas colorida! Resolveu entrar aqui, posso observa-la tão próximo...

- Bom dia! Um café expresso e pão na chapa, por favor. [Falou se dirigindo a atendente que estava do outro lado do balcão.] 
- Bom dia! Lindo cachorro! 
- Obrigada... [Disse sorrindo] 
- Vou fazer o pedido, se quiser aguardar ali, logo mais te chamo. Como é seu nome?
- Ótimo! Obrigada! Meu nome é... 

Ahh... Não! Coloquei os fones no ouvido e levantei para sair. Ela hoje veio para desconstruir o meu admirar a sua monotonia cromática; nome simples, seriedade e velocidade no caminhar. Ousadia demais pra mim! Prefiro deixar preservada a poética no seu passar cotidiano! Levantei e sai. Quando já na calçada, olhei pra trás e ela havia tirado os óculos, me olhou, sorriu levemente e observei melhor... Ela tem covinhas! Parti, parti platonicamente de coração estraçalhado porque aquela mulher ganhou cores.

[...]

 - Mia, seu café está pronto! [Exclamou a atendente]


p.s: Criei a imagem de Mia com IA. 😊