- "Me dá uma palavra!" E a mãe dela dava então Djenny saía e voltava com um poema onde tinha aquela bendita palavra. Trazia rimas e o encanto no rosto com uma expressão de: "Olha o que consegui escrever!" Djenny tinha mais gosto por palavras do que por desenhos, porque pra ela o desenho dela não era tão bonito quanto aquela brincadeira de descobrir combinações, estruturas e sentidos em um texto.
Uma vez chegou para sua mãe e mostrou um desenho e a mãe falou o quanto estava bonito; mas sem olhar bem; ela muito sagaz percebeu e disse: "Não está bom, você nem olhou direito, tudo você diz que está lindo e ainda não está; é pra melhorar." Parece que a pequena implicante preferia a verdade e orientação do que um elogio simplesmente "vago".
Fez aula de desenho, mas a sua prima que nem tinha aula desenhava melhor que ela; não sei se o professor dela não era muito bom, mas logo perdeu o gosto também. Sua letra não era bonita e sua mãe insistia que ela fizesse caligrafia. Ela se esforçava, porém as letras eram tão miúdas que dava a entender que ela queria se esconder.
Começou a escrever pra si; as vezes em forma de diálogo onde ela mesma se questionava e respondia. Separando ela quanto sujeita principal desnorteada e outra interrogadora e amiga. Costumava dar certo.
Chegou a adolescência e Djenny se apaixonou. O romance agora era seu novo hobby de escrita. Procurar palavras nos livros e usá-las ali, em intensas declarações. Ao longo disso começou a tentar roubar letras. Sim! Imitava o "H" de uma professora, o "B" da avó, o "M" da mãe, um "F" de um primo; uma inclinação de escritos antigos e assim por diante. Tomou gosto, mas muito crítica, ainda escrevia timidamente com letras bem pequenas. Contudo, a intensidade delas sobressaia.
Algum dia, nesse contexto de novo romance, Djenny pegou um escrito pra o seu namorado e leu pra mãe ouvir; ela agora sim esperava um elogio, mas a mãe, recebeu as informações do texto assustada e pela expressão no rosto dizia: "Você sente tudo isso?? Cuidado..." Mas Djenny não queria mostrar os sentimentos em si, era a beleza da construção do texto! Apenas isso; e pela mãe não perceber, se sentiu um tanto envergonhada.
Ora se ela sentia tudo aquilo? Na verdade, ela gostava mais do que criava do que realmente as coisas eram. Até o namorado que recebia os textos/mensagens comentara: "Você quando escreve parece que sente tanto! É tanta saudade, mas quando eu chego, não encontro a mesma pessoa." E era isso mesmo. Porque o maior prazer era pegar aquele sentimento da falta e dramatizar, tornar bonito.
Na escola era elogiada pela professora de português pelos seus textos; no cursinho já nem tanto, o que lhe causou estranheza e desafio, começou então a estudar pra escrever melhor e conseguiu! Depois disso passou em um curso fortemente pela sua redação. A escrita nesse momento foi importantíssima na virada da vida dela; porém, ela só se deu conta do peso disso muitos anos depois.
Alguns anos a frente e ela não tinha mais a distancia do namorado; além disso havia tantas coisas pra estudar e a realidade tão insistentemente real a deixava sem vontade de escrever, pois agora, só saiam lamentações, revoltas ou textos académicos. Focou nos estudos e esqueceu desses encontros. Evitava escrever até para não correr o risco de alguém ler o que ela tinha por dentro. Foi então que certo dia uma amiga vendo sua amargura em relação a vida, lhe sugeriu e ajudou a criar um blogger. Como ela não tinha pensado nisso antes?
Nunca havia gostado de escrever diário, pois bem, um blogger era perfeito! Escrever livremente, virtual, anônima e ainda assim, com o segredo de um bom login e senha. A escrita voltou com uma enxurrada de sentimentos, a maioria ruins. Mas começou! Era isso que importava. Externar. Djenny foi percebendo algo mágico a medida que começara a escrever: ela não tinha estrutura ou rascunho, nem perguntas exatas e argumentos pré estabelecidos, nem ao menos sabia a conclusão, como também, não havia mais aquele dialogo nítido dela e amiga analista. Não! Ela fluía sem saber o fim! E no meio disso tudo encontrava; encontrava-se. Escrevia pra se ver, se ouvir e quando enfim descobria coisas de si entendia, acolhia, chamava atenção e orientava. "Agora que sei, o que fazer com isso?"
A escrita a transformou... Ou pelo menos, deixou registrado isso. Viveu uns momentos engraçados, interessantes pra escrever e assim fez; surgiu um novo amor a qual já havia até escrito um texto sobre ele sem nem o conhecer. Depois de um tempo, mais uma vez, a escrita esfriou. Somaram-se longos dias até que veio uma pequena história pronta. Decidiu escrever. Mostrou a um amigo e ele achou fantástica! "Como você é boa nisso!" "Parece um miniconto." Ela gostou da expressão; e a partir daí resolveu fazer outro blogger e nele outras histórias foram chegando. Umas com início, mas sem saber o fim, outras chegavam enquanto ela estava andando para o trabalho; outras quando ela via algumas imagens; quando olhava para as personalidade de algumas pessoas; algumas vinha quando brincava com nomes; lendo livros... As histórias chegavam vez ou outra, ou raramente; mas vinham sem peso.
Djenny desleixada, ignorou o dom mais uma vez até conhecer alguns novos livros, alguns desenhos de letras e algumas dicas. Uma pergunta fez ela voltar a si: "O que você gostava de fazer na sua infância? Isso pode ser acrescentado hoje no que você trabalha e te deixar mais realizado; te alimentar." Gostava de arrumar casinhas (mini, pequenas e grandes); estabelecer espaços e decorar; gostava de criar artes; [E tornou-se designer de interiores] gostava de escrever! Escrever poemas!
Ouviu. Ela poderia ser também escritora! Comprometer-se a nunca abondar a escrita, porque ela não pode esquecer de si, do seu grande potencial criador e revelador de inventar respiros de boas histórias e reflexões das existentes. Uma vez Djenny leu uma pergunta intrigante: "Você preferia não falar, ou não saber ler?" [Isso é pergunta que se faça?] Ela ficou na dúvida. Contudo, optou ser pior não saber ler. Porque lendo ela adquire conhecimento; aprendendo ela pode escrever e a escrita sim, pode ser sua voz!
Essa é a palavra que agora ecoa pra surgirem outros novos textos.