Elisa Paverovisk veio de uma família miscigenada e passou a habitar no país de origem do seu pai e assim ficou mais restrita a quantidade de parentes. Morando no Brasil, percebeu que em cada canto dele um novo "país" se apresentava diante de tanta cultura misturada porém ao mesmo tempo, tão distinta. Seus pais missionárias permitiram que ela tivesse contato com as mais diversas pessoas e lugares, contudo aos 19 anos mesmo assim, se sentiu sozinha.
Elisa viajará pra um país distante do seu e acabou em meio a uma surpreendente pandemia. Assim, não pode voltar pra perto do seus pais logo e com seus amigos distantes também, agora era uma estranha em outro país. As missões tinham sido adiadas, as viagens canceladas. Era hora de descobrir afinal, como experimentar o prazer na solitude a qual não havia experimentado antes por muito tempo. Para isso, alugou um loft pequeno com objetivo de sair do hostel e transformar um espaço em um lugar de pertencimento. Podia fazer isso? Estudou para dizer que "sim!".
O espaço alugado era todo branco, com móveis em madeira escura e eletros brancos também. Tão sem graça que ela pensou em olhar pra uma tela primária, precisando da criatividade de alguém. "Foi colocado os cavaletes pra sustentar isso aqui e as bases, mas falta cor!" Na verdade faltava ela, ou alguém por lá.
Elisa então pesquisou referências na internet, comprou tintas, pintou paredes de forma orgânica; coloriu alguns móveis (pediu permissão e sim, ela poderia!); fez um mural com cordas e fotos penduradas; espalhou luzinhas acima da cama; comprou confortáveis roupas de cama, fez tapete a mão com muitos pompons que entrará na sua rotina diária como a meta de uns por dia; comprou toalha de mesa, aproveitou vidros e fez de vasos; se encarregou de levar plantas pra casa; fez um cantinho terapêutico onde praticava meditação e yoga; lia bastante; comprou um retroprojetor pra fazer "cinema" em casa; começou a dar aulas de algumas coisas que sabia na internet para que assim pudesse além de ganhar dinheiro, se ocupar. Ela também inventou receitas, fez vídeo chamadas, elaborou presentes a mão e enviou com cartas pra os amigos, adotou um cachorro (Murilo o nome dele) e parou.Depois de um dia em que estudou, fez coisas de casa, brincou com o cachorro, parou; pois lhe ocorreu algo: isso tudo é muito bom! Mas as pessoas... As pessoas são necessárias.
A troca de energias, de saberes de faltar palavras e as atitudes, gestos, feições já suprirem. O quão é importante elas existirem pra que possamos usar as nossas referências de ser... Na totalidade, no compartilhar. Não faz sentido ser só. Chorou.
Orou, pois lembrou que não estava. Tinha pra quem orar, por quem orar. Lembrou dos seres que habitavam nela. Sim! A eudaimonia que lhe traz a criatividade necessária pra tanta coisa; o censor que lhe crítica e desafia; o espírito santo que acolhe, encoraja, equilibra... Jesus. Sim. Não estava sozinha. Imaginou-se casa, além de tantos, tantas coisas boas moram ali! E é um convívio diário. Apreciou a solitude. Mas deixando claro pra si que, esse momento é importante, fortalecedor, amoroso e libertador; porém a obrigação de fazer disso algo rotineiro e normal, não o é.
Não devia normalizar a situação atual como "novo normal", porque não condiz com a esperança, o desejo, a nomenclatura, nem a ordem de como realmente deve ser chamada. É uma fase, fase muito ruim e deve ser lamentada e enfrentada como assim ela corresponde.
A integração entre as pessoas são necessárias... Os seres dentro de nós também são. O relacionamento com o outro é necessário pra gente ser alguma coisa!
Corou, chorou, agradeceu por tanto e por tantos; desejou bênçãos a todos como se todos fizesse parte de um grande corpo; sentiu-se triste e ao mesmo tempo um pouco melhor, pois a sua "humanidade" continuava ali firme e perseverante pra o bem de todos. A sua essência era boa e nem solitude com surtos a corromperam. O outro importa. Eu me importo. Somos um.
"Isso também passa."
"Até que venha a nova Jerusalém, fazer o melhor daqui, força."
"Amém."